O actor Ricardo Pereira, excelente profissional e pessoa simpática, respondeu às nossas duas questões ainda a tempo de estas serem publicadas neste espaço. Um obrigado a ele.
Como avalia a actual programação de cinema da RTP2?
Acho que acima de tudo faltam bons ciclos de cinema com propostas alternativas, sinto tambem falta de espaços maiores, como por exemplo programas destinados a novos cineastas com entrevistas e exibição dos seus filmes.
Que aspectos gostaria de ver mudados?
Acho que a primeira resposta acaba por se estender também a segunda pergunta.
Margarida Gil, umas das poucas realizadoras portuguesas e sem dúvida uma das mais afamadas, foi a 2639º assinante da petição. Esta realizadora já viu filmes seus presentes em festivais internacionais como Veneza, Locarno e Roma, sendo que filmes seus são documentos importantes na história do cinema português: Relação Fiel e Verdadeira, Rosa Negra e mais recentemente Anjo da Guarda e Adriana. Foi casada com o gigante César Monteiro, colaborando em várias obras suas como actriz (Vai~e~Vem, Veredas e Que farei com esta espada?) ou como assistente de realização (Silvestre e Fragmentos de um Filme-Esmola: A Sagrada Família). Mas a sua presença na televisão foi sempre uma constante, realizando vários documentários, assim como episódios do Hermanias e do Filme da Minha Vida. Ex-docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Margarida Gil é a actual presidenta da Associação Portuguesa de Realizadores. A sua média metragem Perdida Mente estreou recentemente (na cinemateca) e Paixão é o seu nova longa, a estrear ainda este ano.
Actriz maior do cinema português, melhor, do cinema europeu, com papéis notáveis em vários filmes recentes da produção nacional, destacando-se "Noite Escura" de João Canijo, "Quaresma" de José Álvaro Morais" e "Alice" de Marco Martins, Beatriz Batarda é a nossa mais recente assinante. Uma grande honra e uma grande prova do valor indiscutível desta iniciativa. Estamos no caminho certo, com as pessoas certas.
Voltamos! John Flynn é um desconhecido em Portugal; aliás, até no seu país de origem o é um bocado. Morreu em 2007 e foi recentemente lembrado e reavaliado pela revista FOCO. Entre as suas obras contam-se Rolling Thunder, tão bom como qualquer Peckinpah, que é residente e repetente na RTP2 há anos e anos (quantas vezes se exibiu o Wild Bunch no canal?), e Best Seller, uma pérola perdida no tempo, provavelmente a sua obra-prima.
Artesão que vivia para os seus actores e para as suas personagens, Flynn realizou o único filme com o Steven Seagal que é suportável (Out for Justice) e um dos melhores "veículos" de Stallone, Lock Up. Escondia-se humildemente atrás das câmaras como ninguém faz hoje, e olhar para um filme de Flynn é olhar também para o trabalho de actores, de directores de fotografia, de técnicos variados, é olhar para uma equipa que ganha vida e significado pelo amor que Flynn tinha à arte de filmar. Mise en scène é uma expressão já gasta, mas é precisamente isso.
Na ressaca das teorias do autor, Rivette e Godard sentiam-se defraudados e incompreendidos. Rivette disse até que queria passar a trabalhar a um nível de "apagamento do autor". Flynn é, parece-me, o epítome de tal expressão.