UM BALANÇO
Still de "Let the Right One In" de Tomas Alfredson
2. O que podia ter estado melhor:
Como muitos espectadores notaram logo que viram a programação deste ressuscitado "5 Noites, 5 Filmes", apesar de tudo o que o João Palhares aponta no seu balanço, a verdade é que a direcção da RTP2 continua na mesma. Faz ciclos como quem prepara "roupa velha" com as sobras do jantar de ontem, mais concretamente, passa e, nalguns casos, repassa filmes que já toda a gente viu ou pôde ver ou na RTP1 ou na própria RTP2. A maioria dos filmes exibidos na primeira semana (que é a penúltima...), dedicada ao "Mundo perdido da adolescência" - bom título, bom tema... -, já tinha passado antes na televisão pública. Os espectadores sabem isso e, mesmo que não os tenham visto, é como se tivessem - talvez seja um pouco como vender carros em segunda mão...
De qualquer modo, foi interessante ver como um filme sueco de vampiros consegue dialogar com a catástrofe existencial de um "Afterschool" - falei em catástrofe porque me lembrei de uma das ausências mais sentidas neste ciclo: Gregg Araki, autor de uma trilogia sobre o mundo apocalíptico da adolescência... Com efeito, a adolescência fica órfã aqui dos seus principais pais cinematográficos: falei de Araki, mas podia falar de Larry Clark ou Gus Van Sant. Não digo que seja possível fazer-se um ciclo sem excluir obras essenciais, só digo apenas que programaticamente, por exemplo, um "December Boys" é uma escolha tão insólita quanto inadequada, face às ausências de peso. Também se perdeu uma grande oportunidade de recuar mais no tempo e abordar alguns grandes clássicos sobre "o elogio (no sentido de "eulogy") da adolescência". Lembro-me dos rostos de James Dean e no cinema de Nicholas Ray e vejo uma pungente "dor de crescer" - era interessante convocar o presente e o passado, isto é, não nos limitarmos tanto ao "contemporâneo".
Mas mesmo mantendo as escolhas de Wemans, continuo a sentir que todos ganharíamos, digo, que o PAÍS GANHARIA, se o senhor director colocasse alguém que saiba pensar o cinema, de forma provocadora e instrutiva, a contextualizar cada obra, a ensinar-nos a formar o pensamento com base nas imagens e não a fazer-nos ingeri-las apressadamente, como se faz hoje com quase tudo, das pipocas à Arte.
Todavia, para que este regresso do "5 Noites, 5 Filmes" fosse, de facto, um acontecimento assinalável da televisão e da cultura nacionais, tinha este de ser um comeback a sério e não uma visita de médico que pouco ou nada acrescenta à paisagem audiovisual portuguesa - é que nem dá tempo para se fazer notar ou, muito menos, para "criar públicos"... E era preciso que o senhor Jorge Wemans fosse um programador que soubesse o que é programar cinema. O que nunca foi, não é e dificilmente algum dia será...
Luís Mendonça
Luís Mendonça
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